sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Ansiedade

Ansiedade é um estado caracterizado pelo medo, apreensão, mal-estar, desconforto, insegurança, estranheza do ambiente ou de si mesmo e muito freqüentemente a que algo desagradável pode acontecer. A ansiedade também vem acompanhada de sinais somáticos, como sensação de falta de ar, respiração curta, aperto no peito, ondas de calor, calafrios, formigamento, tremores, náusea e etc.
A ansiedade pode ser causada pela fragilização da estrutura emocional,como também pode ter relação com o uso de medicamentos como: anticolinérgicos, antipsicotrópicos em doses altas, estimulantes, hormônios e antidepressivos no início do tratamento.
Quando a ansiedade é extremada se torna patológica, causando sérios problamas no convívio social.


Diagnóstico

Um histórico médico e exame físico são essenciais para o diagnóstico inicial de qualquer desordem de ansiedade, a fim de excluir qualquer outra condição médica significativa e tratável que poderia estar causando os sintomas, assim como um histórico familiar de ansiedade, ou outra doença psiquiátrica.

Tratamento

Os sintomas agudos de ansiedade geralmente são controlados com agentes ansiolíticos como os benzodiazepínicos.
Todos os benzodiazepínicos causam dependência física, e o uso extensivo deve ser cuidadosamente monitorado por um médico, de preferência um psiquiatra.
Juntamente com os medicamentos a terapia cognitiva e de comportamento são as formas de psicoterapia mais eficientes para tratar a ansiedade. Exercícios e outras atividades físicas também são bons para aliviar o estresse causado por ela.
Se a ansiedade for bem assistida e tratada a pessoa terá uma vida saúdavel.



Por Isabela R. Guimarães.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA GRAEFF, Frederico G. Transtornos de ansiedade. 1ªed. Atheneu, 2004.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Esquecer um ex relacionamento

Depois de analisar alguns fatos, obter algumas respostas,algumas pessoas podem chegar à conclusão que é melhor voltar a um passado infeliz, mas seguro, do que enfrentar um futuro incerto, apesar de quase sempre, muito melhor. Essa voz que lhe diz para ligar, procurá-lo, passar por cima de suas mágoas e sentimentos, fazendo-a olhar esse passado com lágrimas nos olhos, pode estar apenas representando seu medo de acreditar em si mesma e ser capaz de superar essa dor.
Separar-se não significa não haver mais nenhuma possibilidade de voltar atrás e reconciliar-se. Significa simplesmente que por enquanto a relação acabou e esta é a única certeza que possui. Algumas vezes acontece que, depois de uma separação, o casal volte a unir-se, superando as dificuldades e acima de tudo, aprendendo com cada uma delas.
Porém, viver na esperança e na expectativa de que isso aconteça pode ser muito destrutivo. É essencial viver esse momento como uma verdadeira separação, a fim de que todo o sofrimento tenha algum sentido de ter existido e tenha deixado algum aprendizado, para que assim algumas mudanças possam ocorrer.
Se haviam brigas constantes, desentendimentos, tristeza, a separação não deveria ser vivida como uma sensação de alívio?
E se em lugar do alívio, existe a angústia, opressão? Será que isso indica que houve um engano? Mesmo que a relação não estivesse sendo como gostaria, agora falta uma parte de si mesma que sentia como se existisse dentro de você e que foi embora, não há mais um ponto de referência que o outro proporcionava. Houve a quebra de vínculos profundos, e quanto mais longa foi a relação e mais intimamente os momentos eram partilhados, mais intensa parece ser a falta que faz. Mesmo quando havia sofrimento durante o relacionamento, infelizmente é muito difícil existir uma separação sem dor.
Parece ser difícil passar desapercebido esse momento. Os sentimentos que antes era possível disfarçar, agora parecem ficar mais expostos como nunca. A separação de fato machuca tanto, que na escala das causas de estresse vem imediatamente após a morte de uma pessoa significativa. Tanto isso é verdade que quando esse vínculo é rompido, é necessário um trabalho interior que requer uma enorme quantidade de energia psíquica para recuperar o equilíbrio perdido, tanto que psiquicamente,passamos por um período de luto, da mesma forma de quando perdemos uma pessoa querida pela morte real.
De fato, muitas pessoas têm a sensação de assistir a um enterro, sem flores nem acompanhamentos, no qual se está só com seu luto. Algumas pessoas nesse momento precisam estar na companhia de alguém que as ouçam e suportem com elas sua dor, mas quase sempre a pessoa não se sente uma companhia muito agradável, evitando qualquer contato com outras pessoas, para ter a liberdade de chorar, chorar e chorar. Não imaginando que ficaria tão mal! Mas ficamos.
Algumas pessoas olham fotos de momentos vividos juntos, lêem cartas, mensagens que foram trocadas. Outras, no entanto,rasgam tudo, querem se livrar de tudo aquilo que as façamlembrar do passado, afinal os objetos são terríveis testemunhasdo que se deseja esquecer. O que é ideal? Guardar e rever tudo que foi conquistado junto ou se livrar de tudo o mais rápido
possível? Faça o que te faça sofrer menos. É comum nos dias seguidos da separação, rever fotos e tudo que possa lhe garantir que tudo aquilo existiu de fato, mas prolongar esse período pode trazer muito mais dor.
A culpa também é outro sentimento que pode nos fazer querer voltar para refazer o que não fizemos. Algumas pessoas tendem a assumir toda a carga da responsabilidade para si devido a um sentimento de inferioridade, baixa auto-estima, por não ter sido capaz de manter a relação. Outras tendem a agir ao contrário,não se responsabilizando por nada do que ocorreu. Nem sempre a busca por culpados é o melhor caminho, é melhor entender o que aconteceu, evitando apontar o dedo para quem quer que seja.
Foram preciso duas pessoas para começar a relação e também
para terminá-la, por mais que um dos dois não quisesse que isso ocorresse. Mas não se deve deixar-se esmagar por condenações, com certeza cada um naquele momento fez o melhor que conseguiu fazer. Ter uma visão clara do que ocorreu não é uma conquista imediata e para que as primeiras reações emotivas possam ser compreendidas leva algum tempo.
Não é possível determinar quanto tempo, pois cada pessoa reage de maneira diferente, principalmente devido ao seu histórico de vida. Pessoas que quando crianças viveram a experiência do abandono, com certeza encontrarão mais dificuldades para enfrentar esse momento, pois o abandono da infância irá se somar ao atual, podendo fazê-la reviver o último com muito mais intensidade e sofrimento. Por outro lado, aquelas que viveram uma infância com afeto, sem perdas, terão mais recursos para enfrentar a separação.
Seja o que for que esteja sentindo nesse momento, saiba ser compreensiva consigo mesma como seria com alguém que lhe pedisse colo. Dê a si mesma, carinho, atenção e ouça cada um de seus sentimentos, sem desprezá-los ou ignorá-los, para que aos poucos comece a reconstruir esses sentimentos que pensava nunca mais sentir.


Rosemeire Zago
Psicóloga clínica.

Tristeza e Dignidade do Suicídio

Quando eu tinha 12 anos, um tio meu se suicidou. Era um tio de quem eu gostava e que gostava de mim. Ele enfiou a cabeça no forno e abriu a torneira de gás. Deixou uma nota, sucinta, que dizia: “Suicídio por razões profissionais e amorosas”.
Meus pais não esconderam de mim as circunstâncias da morte do tio e me mostraram seu bilhete. Mesmo assim, imaginei perceber, em meus pais, certa vergonha. Isso, porque, no fundo, eu os culpava. Foi a grande crise na minha idealização dos meus pais e, por conseqüência, na tranqüilidade de meu mundo: aparentemente, a amizade e o amor que eles ofereciam não tinham sido suficientes para dar a meu tio a vontade de continuar vivendo.
Nada me garantia, portanto, que eles saberiam fazer o necessário para que eu estivesse a fim de viver. Foi assim que o luto pelo suicídio do meu tio foi também o fim de minha infância.
Mas, em regra, quando se suicida um próximo de quem gostamos e que gostava de nós, não atribuímos vergonha e culpa a terceiros: esses sentimentos surgem em nós, ao descobrir que nossa presença e nosso amor não bastaram para que o outro quisesse viver. Em alguns casos, essa ferida nunca cicatriza.
Quando o suicida é nosso pai ou nossa mãe, o sentimento de não termos sido a razão suficiente para ele ou ela viverem fica conosco para sempre, como um fundo melancólico, como a sensação de insuficiência essencial ou de uma impossibilidade de sermos amados.
Quando o suicida é um filho ou uma filha, a perda (irreparável, pois o luto pelos nossos descendentes é contra a ordem das gerações) é acompanhada pelo sentimento de um fracasso, como se não tivéssemos conseguido transmitir o básico: a vontade de viver. Deve ser por isso que os monoteísmos consideram o suicídio como um pecado contra o criador: o suicida demonstraria o malogro de Deus.
Para os familiares de suicidas, o tom é justo, comovedor e tocante, como se quando alguém decide morrer, fôssemos todos, de uma maneira ou de outra, responsáveis.
O ato suicida guarda sua dignidade porque, apesar das explicações dos próximos, ele permanece misterioso e radicalmente imprevisível, como qualquer ato humano.
Uma vez que, os fatos acontecidos, somos capazes de interpretar, de encontrar explicações e mesmo de assumir responsabilidades e culpas que temos ou não temos. Mas tudo isso apenas retroativamente.
Em matéria de comportamento humano, somos quase sempre incapazes de prever. Não sei se é um mal: talvez essa ignorância seja a condição de nossa liberdade.

Quinta-Coluna – São Paulo:Publifolha, 2008. – 101 Crônicas Contardo Calligaris (Psicanalista e Colunista da Folha de SP)

Psicanálise.

A psicanálise surgiu na década de 1890, por Sigmund Freud, médico interessado em achar um tratamento efetivo para pacientes com sintomas neuróticos ou hestéricos .
Através de conversas com seus pacientes, Freud acreditava que seus problemas surgiam da inaceitação cultural, sendo assim reprimidos seus desejos inconscientes e fantasias de natureza sexual. O método básico da Psicanálise é a interpretação da transferência e da resistência através da livre associação.

Desde Freud, a Psicanálise se desenvolveu de muitas maneiras, e diversas dissidências da matriz freudiana foram sendo verificadas ao longo do século XX.
As principais dissensões que passou o criador da psicanálise foram Jung e Alfred Adler, que participavam da expansão da psicanálise. Outras dissidências importantes foram Otto Rank, Erich Fromm.

No entanto, a partir da teoria psicanalítica de Freud, fundou-se uma tradição de pesquisas envolvendo a psicoterapia, o inconsciente e o desenvolvimento da práxis clínica, com uma abordagem psicológica.

Desenvolvimentos como a psicoterapia humanista/existencial dentre outras terapias existentes, foram, também, influenciadas pela tradição psicanalítica, embora tenham atribuído uma visão particular para os conteúdos da psicologia clínica.
Atualmente, a Psicanálise não se restringe à prática e tem uma amplitude maior de pesquisa, centrada em outros temas e cenários, desenvolvendo-se como uma ciência psicológica autônoma.

Por Isabela R. Guimarães.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Personalidade e Crescimento Pessoal. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed,2004.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Psicologia do Esporte: esportes de contato

A psicologia é uma ciência que atua nas mais diversificadas áreas humanas, entre elas está a Psicologia do Esporte, que visa promover a saúde, a comunicação, as relações interpessoais, a liderança e a melhora no desempenho esportivo. O trabalho é feito, primeiramente, identificando junto ao atleta, os motivos que o ajudaram a escolher o esporte do qual pratica e quais os seus objetivos. Isso se deve ao fato de que quando o praticante de determinado esporte conhece o que é que o mantém treinando, ele tem mais controle e condições de controlar e prever seus comportamentos dentro do esporte. Na maioria das vezes o que mantém o atleta treinando, são causas naturais, ou seja, reforços que são conseqüências do próprio esporte, como por exemplo, a melhoria na execução do mesmo. Porém, muitas vezes, existem outros anseios de reforços, como por exemplo, quando o atleta treina sob a pressão familiar, do treinador ou qualquer outro motivo que venha da intenção de agradar a terceiros, isso acaba fazendo do esporte uma atividade desgastante psicologicamente, gerando assim o “stress” físico e o mau desempenho. Neste caso, o trabalho do psicólogo consiste em ajudar o atleta a entender seus próprios gostos e vontades, sem a insegurança de querer agradar a alguém, e assim encaixá-lo em alguma outra modalidade que lhe de prazer e consiga também este outro reforço, que é a atenção dos outros. O atleta de qualquer modalidade precisa entender o que é que está gerando o seu desempenho e comportamento dentro do esporte praticado, porque assim ele consegue manter o controle do desenvolvimento e do compromisso em treiná-lo sem fazer disso uma tarefa tão árdua. Este compromisso mais prazeroso é o que gera a possibilidade de se trabalhar melhor a parte de técnicas para a melhoria do seu rendimento. Para ajudá-lo a encontrar este entendimento, é preciso que seja feito um planejamento, na qual irão se definir objetivos, dos quais serão gerados a partir de análises do ambiente e da metodologia do treino, para que assim as atividades propostas sejam reforçadoras, prazerosas. É necessário também a “própriocepção”, o atleta tem que aprender a discriminar o que está acontecendo em seu corpo durante o treino, fisiologicamente, os movimentos das articulações, os tendões, os movimentos musculares e tudo o que acontece durante. Assim ele tem como determinar a quantidade e intensidade de esforços que serão úteis na atividade esportiva realizada. Outro agente importante para o bom desempenho esportivo é a concentração, onde o atleta tem que aprender a concentrar sua atenção naquilo que é importante dentro de sua modalidade e no momento da competição, sem deixar estímulos externos interferirem, como o medo, a ansiedade, o ambiente e outros. Um dos principais controles do qual o atleta deve ter, é o emocional, onde ele aprende a lidar com as cobranças, competitividade, derrotas, vitórias, dificuldades econômicas, preconceitos sobre o esporte escolhido (em muitos casos) e falta de incentivos ou motivações.

Esportes de Contato

Nos esportes de contato, como o MMA, por exemplo, que engloba vários tipos de especialidades de lutas, há uma grande quantidade de fatores que interferirem no término da luta, tais como preparação física, técnica, tática e principalmente psicológica, pois é através dessa que o atleta pode reverter uma situação desfavorável quando encontra alguma falha em um desses quesitos. Segundo JONES e HARDY (1990) e ROTTELA e LERNER (1993) apud RUBIO (2000) “é muito importante conhecer os efeitos dos aspectos psicológicos envolvidos em atividades esportivas que, em várias ocasiões, a capacidade de lidar com diferentes aspectos psicológicos envolvidos em uma competição é que pode determinar a diferença entre o atleta vencedor e o perdedor ou entre o atleta verdadeiramente talentoso e o comum”. A psicologia nesta área ainda não está bem aceita, é considerado um treinamento secundário e não fundamental. Em um campeonato, muitas vezes o atleta encontra um adversário mais alto, mais hipertrofiado, com mais experiências, nome mais famoso ou maior torcida e isto interfere profundamente no emocional, atrapalhando a segurança e autoconfiança, que são fatores responsáveis pela utilização de tudo o que foi treinado. O atleta já perde dentro de si mesmo antes mesmo de perder para o adversário, por isso a importância do preparo psicológico. Segundo BOMPA (2002), “o treinamento psicológico é de grande importância, pois melhora a autoconfiança dos atletas fazendo com que adquiram um melhor desempenho físico. O atleta estando bem preparado psicologicamente consegue absorver com mais facilidade os momentos adversos da luta como machucados, dores, desvantagem numérica de pontos, e pode reverter essa situação a seu favor. Ele tendo esse controle consegue agüentar a pressão, elaborar uma estratégia e aguardar o momento favorável de aplicar o golpe que pode ser decisivo para decidir o combate.” Um atleta seguro e bem trabalhado psicologicamente tem a partir de sua autoconfiança uma forte “arma” a seu favor, porque assim independente do adversário ou de sua categoria, ele consegue um bom desempenho. Muitos atletas que estão em boas condições físicas e bem preparados podem obter resultados negativos, devido ao despreparo psicológico, porém, em sua maioria, eles relacionam a perda apenas à falta de treino, ou erro tático e físico. Não há duvida de que o treinamento físico é fundamental para um bom resultado na luta, porém nem sempre o fato de haver um bom treinamento físico garante vitórias, o atleta precisa manter o equilíbrio emocional para conseguir utilizar de forma adequada e oportuna o que treina. Há situações em que atletas chegam a não estarem preparados o suficiente fisicamente, porém obtêm vitórias inesperadas, o que acontece é que geralmente relacionam com a idéia de que o adversário não era bom, mas na verdade houve ali um equilíbrio emocional mais adequado. Segundo WEINBERG e GOULD (2001), ”melhor concentração, níveis mais elevados de autoconfiança, pensamentos orientados à tarefa, níveis mais baixos de ansiedade, mais pensamentos positivos e mentalização positiva proporcionam vários fatores benéficos para o lutador, como passar segurança em si mesmo, concentrar-se em sua atuação, sentir entusiasmo por competir, dominar seus temores, ter controle de seus comportamentos e obter a maior satisfação possível da prática esportiva”. Levando conseqüentemente a um bom resultado. Muitos atletas dão mais importância para o físico com objetivo de intimidar seu adversário através de seu porte e habilidades. Porém em cima do ringue, o mais essencial é conseguir utilizar toda essa capacidade física e conseguir manter isso durante a luta inteira, além do que, o excesso de empenho físico acarreta lesões, não devidamente tendo importância pelos atletas, mas que futuramente, ocasionarão sérios problemas e até a interrupção da prática do esporte. Quando lutadores famosos ganham sua fama e ficam mais velhos, conseguem ter uma visão mais panorâmica do esporte, assim mantêm mais a calma, e conseguem suportar maior pressão dos adversários no combate, utilizando suas capacidades máximas. O mercado da luta gera muito dinheiro, por isso, atletas famosos muitas vezes se dispõem a publicar a importância física excessiva, pois são patrocinados por empresas de suplementos, academias e derivados. Assim precisam “enfiar na cabeça” de atletas jovens que o necessário é utilizar de seus patrocínios, ou seja, treinar muito, exagerar fisicamente, fazer absurdos com a saúde e com isso apenas procurar lesões e futuras derrotas. É nítido que eles para conseguirem manter o “status” em que estão não são assim, não fazem o que falam, é apenas “merchan”, a verdade é que eles têm que se cuidarem, utilizarem a experiência da carreira a seu favor e por terem mais experiência, são mais preparados psicologicamente, e conseguem não exagerarem provocando estresse corporal ou lesões, e assim mantém ótimos desempenhos, impressionando em cima dos ringues. É necessário ressaltar que apenas um bom preparo psicológico não trás para o atleta vitorias, mas sim, uma aliança entre os treinos físicos com os treinos psicológicos é que trarão os resultados esperados por cada atleta. O ser humano é capaz de realizar diversas atividades, porém existe a influência de diversos fatores para isto, como genética, hereditariedade, fisiologia, treino, condições ambientais, psicológicas, físicas, sociais e de saúde. Porém no caso dos esportes de contato, o atleta não precisa ser necessariamente equipado com todos estes fatores, ele pode ir compensando o que falta em outros preparos. Ele conseguindo manter um bom preparo psicológico será capaz de suprir a falta de outros fatores. Dentro de uma equipe de qualquer modalidade esportiva, é essencial a presença do psicólogo esportivo, pois ele trabalhará em função de auxiliar o atleta a se identificar com seu esporte, a conhecer mais a si próprio e organizar suas energias, concentrações e as emoções para uma boa desenvoltura. Somente com uma equipe completa de treinamento, os atletas poderão obter os totais benefícios e ganhos com o esporte que pratica.

Por Aline K. Bendasolli

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOMPA, T. Periodização: Teoria e Metodologia do Treinamento. 1ª ed. São Paulo: Phorte, 2002. WEINBERG e GOULD. “Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício”. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. RUBIO, K. Psicologia do Esporte: Interfaces, Pesquisa e Intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1º Ed, 2000.

HOMOSSEXUALIDADE, PSICOTERAPIA E ÉTICA.

Atualmente há muita polêmica envolvendo profissionais da área da Psicologia, que alegam “curar” a homossexualidade. Preconceituosamente o homossexual é visto perante a sociedade como um “estranho”, um ser inferior, essa postura aparece em todos os ambientes sociais, que na verdade deveriam estar a favor do entendimento e da
superação dos preconceitos.
Quando se fala em “curar” pressupõe-se que seja uma doença, porém com relação a essa idéia a comunidade médica é unânime ao afirmar que não, nenhuma orientação sexual é doença.
Segundo Carmita Abdo, responsável pelo Projeto de Sexualidade da USP, a origem da homossexualidade é uma somatória de fatores, mas ninguém sabe a causa, sendo assim não seria possível um tratamento contra “bloqueios psicológicos”.
Essas idéias um tanto retrógradas vão fazendo o indivíduo homossexual perder cada vez mais seu espaço e posição social respeitosa de igualdade dentro da sociedade, desenvolvendo assim um autoconceito, baixo se tornando cada vez mais solitário e excluído.
Talvez mais importante que considerar a homossexualidade um problema psicológico, passível de tratamento, seja educar a população para respeitar as individualidades.
Vemos que as mudanças decorrentes na sociedade fazem da opção sexual uma grande polêmica, é uma situação que necessita de grande ajustamento emocional, por isso este projeto tem a finalidade de investigar o significado da homossexualidade perante as práticas psicoterápicas e a importância da ética profissional nesses casos.
Segundo Peter Fray (1983), a palavra homossexualidade vem do grego homos = igual + latim sexus = sexo, refere-se ao atributo, característica ou qualidade de um ser humano que sente atração física, emocional e estética por outro ser do mesmo sexo. Esse termo também se refere a um indivíduo com senso de identidade pessoal e social com base nessas atrações, manifestando comportamentos e aderindo ou não a uma comunidade de pessoas que compartilham da mesma orientação sexual.
Historiadores afirmam que, embora o termo seja recente, a homossexualidade existe desde os primórdios da humanidade tendo havido diversas formas de abordar a questão.
Ao decorrer da história da humanidade, os aspectos individuais da homossexualidade foram admirados ou condenados, de acordo com as normas sexuais vigentes nas diferentes culturas e épocas em que ocorreram. Quando admirados, esses aspectos eram entendidos como uma maneira de melhorar a sociedade, quando condenados, eram considerados um pecado ou algum tipo de doença, em alguns casos, até proibido por lei.
No século XIX, a homossexualidade foi definida em termos psiquiátricos como um desvio sexual, uma inversão do masculino e do feminino. A partir de então, no ramo da Sexologia, a homossexualidade foi descrita como uma das formas emblemáticas da degeneração, nessa época já existiam as leis que proibiam as relações entre pessoas do mesmo sexo.
Esse cenário vem mudando desde meados do século XX, a homossexualidade tem sido gradualmente desclassificada como doença e descriminalizada na maioria dos países, havendo alguns que as tratam em absoluta igualdade com as relações entre pessoas de sexo oposto.
A partir dos movimentos de liberação homossexual, emergiu o termo gay como meio para apagar o teor psiquiátrico por trás da palavra homossexual. Assim, gay é um termo politizado e menos estigmatizante. Chamava-se originariamente gay ao homossexual masculino (independente de "rotulações" tais como ativo ou passivo). Hoje em dia, o termo gay aplica-se indistintamente quer ao homem que se relaciona sexualmente com outro homem, quer à mulher que se relaciona sexualmente com outra mulher.
Mas o maior problema não seria o termo homossexualidade, mas sim a palavra homossexualismo, sendo que o sufixo "ismo" é utilizado para referenciar posições filosóficas ou científicas sobre algo, já outros afirmam que sua utilização é mais adequada a situações de identificar opções pessoais, estilos de vida e, partindo disso, passar para o distúrbio mental ou doença Também por isso, muitas pessoas consideram que o termo homossexualismo tem um significado pejorativo, e isto tem sido levado hoje como o termo mais utilizado por pessoas que têm uma visão negativa da homossexualidade.
As principais organizações mundiais de saúde, inclusive as de psicologia, não consideram mais a homossexualidade uma doença. Desde 1973, ela deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de Psiquiatria e, na mesma época, foi retirada do Código Internacional de Doenças.
Segundo um texto publicado pela revista Superinteressante, da edição 207 (dezembro/2004), a Assembléia geral da Organização Mundial de Saúde no dia 17 de Maio de 1990, também retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, declarando que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade.
Apesar disso e mesmo contra recomendações do Conselho Federal de Psicologia do Brasil, existem técnicos da saúde que insistem em ver a homossexualidade como uma doença, perturbação ou desvio do desejo sexual, algo que pode necessitar de tratamento ou reabilitação, aos quais está associado o movimento ex-gay, dedicado à "conversão" de indivíduos homossexuais para a heterossexualidade.
Segundo Campos (1994), na psicanálise não se teve uma explicação completa sobre a origem do homossexualismo, mas descobriu-se o mecanismo psíquico de seu desenvolvimento. Nos primeiros anos de infância, há uma fase de fixação muito intensa por uma mulher, mãe ou sua substituta, (no caso do menino) ou pelo pai (no caso da menina), depois de passada esta fase, identificam-se com eles e se consideram, eles próprios, seu objeto sexual, ou seja, partem de uma base narcísica e procuram alguém que se pareça com eles, a quem eles possam amar como eram amados por seus pais.
A natureza da homossexualidade não pode ser explicada, quer pela hipótese de que é congênita, quer pela hipótese de que é adquirida. Se for congênita, deve-se perguntar sob que aspecto ela é, a menos que queiramos aceitar a explicação de que todos nascemos com instinto sexual ligado a um determinado objeto sexual. No caso da adquirida, pode-se indagar se as diversas influências acidentais seriam suficientes para explicar a aquisição da homossexualidade, sem a cooperação alguma coisa no próprio individuo. Para Freud todo ser humano na infância passa por um estágio bissexual, onde o componente homossexual geralmente desaparece, uma pequena parte ainda permanece na vida adulta, de forma sublimada. A homossexualidade, quando insuficientemente reprimida, poderá manifestar-se na vida adulta.
A disposição para isso é uma disposição normal e universal do instinto sexual humano e o comportamento sexual normal se desenvolve a partir dela como resultado de alterações orgânicas e psíquicas que ocorrem durante a maturação.
Para uma compreensão acerca da manifestação da homossexualidade, é necessário que se conheça a historia de vida do individuo, bem como seu envolvimento no processo analítico. Cada caso é um caso, portanto, não é correto afirmar que a homossexualidade é uma doença.

Embora ainda aja muita discussão sobre a verdadeira origem da homossexualidade, uma das teorias mais abrangentes e mais aceitas, é precisamente que a orientação sexual é determinada tanto por fatores biológicos e psicológicos decorrentes ao longo do desenvolvimento da identidade do indivíduo.
Assim, a atribuição da homossexualidade a traumas pode ser considerada, porém, muitos homossexuais não têm na sua experiência um desses "traumas de infância”. Existem muitas pessoas que apóiam (principalmente populares, não-científicas), a observação das experiências sexuais e a relação entre gêneros leva a maioria da sociedade a considerar tais teorias são desprovidas de validade. Também consideram a homossexualidade uma incapacidade de relacionamento com o sexo oposto, visto que de forma geral, o indivíduo homossexual tem potencialmente um comportamento e experiências sociais iguais às do heterossexual.
A homossexualidade não é uma escolha, mas uma atração sexual e emocional por indivíduos do mesmo sexo que surge de forma espontânea e inesperada, assim como a heterossexualidade.
Segundo Kuehlwein (1998), o trabalho do psicólogo com homossexuais, envolve fazer uma avaliação das crenças e do ambiente social do cliente, identificando as mensagens que ele obteve sobre si, sua sexualidade e sua homossexualidade, com o objetivo de explicar as dificuldades em relação à auto-aceitação e construir novas crenças, consolidar uma identidade gay positiva, trabalhar as evidências sobre as atitudes da família e dos amigos, identificando evidências reais e fantasiosas e desenvolver junto ao cliente uma rede social de amigos gays e heterossexuais.
Para a psicoterapia comportamental, há um processo de autoconhecimento com o objetivo de promover um maior desenvolvimento da percepção que uma pessoa tem sobre si, de suas atitudes, pensamentos e sentimentos. Neste sentido, propõe que ao trabalhar com homossexuais é importante identificar os problemas e as situações conflitantes que a identidade homossexual produz, de forma que essa identificação possibilite a manipulação de variáveis que provoquem modificação de comportamentos do cliente.
Segundo Skinner (1993), a psicoterapia é vista como um agente controlador, não tão organizada quanto o governo ou a religião, mas uma profissão, cujos membros observam procedimentos mais ou menos padronizados. Esta característica de agente controlador deve-se ao fato de que a psicoterapia está relacionada, com comportamentos considerados inconvenientes ou perigosos para o próprio indivíduo ou para os outros, desta forma, pode-se dizer que quando uma pessoa procura a ajuda de um profissional da psicologia está sob controle de condições aversivas, que estão presentes em sua vida e por isto decidiu fazer terapia, portanto a possibilidade de mudança é vista como promessa de alívio, o que coloca o psicólogo como novo agente controlador. O próprio Skinner aponta que a psicoterapia é, freqüentemente, um espaço para aumentar a auto-observação, para “trazer à consciência” uma parcela maior daquilo que é feito e das razões pelas quais as coisas são feitas.
A psicoterapia comportamental se preocupa com mudança de comportamento, e essa mudança se baseia em uma análise funcional dos comportamentos considerados problemáticos. Neste sentido ele afirma que uma psicoterapia precisa oferecer efetividade, otimização entre custo e benefício, garantir que não existirão efeitos perniciosos decorrentes da intervenção e manutenção dos resultados.

Portanto pode-se dizer que a psicoterapia é um processo que envolve uma relação humana, na qual estão presentes o cliente e o terapeuta. Nessa relação, cada um tem seu papel definido, sendo o terapeuta o responsável pela ajuda e o cliente aquele que procura ajuda.
Mas a psicoterapia também pode ser um meio de controle da conduta humana, pode se tornar uma violência contra os indivíduos se o terapeuta não tomar os devidos cuidados éticos. É importante que se tome muito cuidado com a questão ética nessa profunda relação estabelecida, para que este “ajudar” não seja o “pensar para” o cliente, “modificar” o que é parte dele, para que não sofra e pareça eficaz em um período mais curto de tempo na psicoterapia. Esta questão ética da Psicologia dá um gancho para pensarmos sobre a polêmica que levou ao interesse para a realização deste artigo.
Esta polêmica foi publicada na Revista Veja, na edição 2125, no dia 12 de Agosto de 2009, e trata de uma declaração feita por uma psicóloga R.A.J., 50, formada pelo Centro Universitário Celso Lisboa, do Rio de Janeiro, na qual diz considerar a homossexualidade um transtorno para o qual oferece terapia de cura.
A psicóloga foi censurada pelo Conselho Federal de Psicologia, pois ela infringiu uma resolução do CFP de 22 de março de 1999, que garante que a homossexualidade “não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”.
Segundo Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora geral do ProSex (Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo), todo homossexual que for egodistônico, ou seja, que não aceitar sua condição sexual e tiver conflito em relação à sua sexualidade pode ser tratado por um psiquiatra ou terapeuta. Não para reverter ou mudar a sua tendência, mas para tentar se adaptar à sua condição. Essa é a orientação da Organização Mundial da Saúde, que há 15 anos tirou da homossexualidade o status de "doença mental". Todos os tratamentos aplicados até então para curar um homossexual não davam certo, pelo contrário, tornavam a situação dele ainda mais crítica.
A tentativa de "reverter" a homossexualidade de um paciente acabava por deixá-lo mais confuso. Esse tipo de tratamento cria um conflito entre o que ele deseja ser e o que ele consegue ser. Nos dias atuais, um profissional de saúde não pode fazer uma escolha de como tratar um homossexual, uma vez que existe um consenso, uma diretriz que diz que não existe uma doença e, portanto, não há uma cura para ela.

O interesse pela realização deste artigo foi à declaração de uma psicóloga, que dizia curar a homossexualidade, isso nos faz pensar sobre sua posição ética em relação à psicoterapia, é totalmente antiético da parte do profissional de Psicologia, pois além de ser de sua área de atuação o apoio para o bem estar emocional, identificação, aceitação e adaptação do próprio “eu” do cliente, é também de grande responsabilidade social, já que é a área do “comportamento humano”.
Infelizmente alguns profissionais ainda atuam dentro de um pensamento ultrapassado, quando a homossexualidade foi considerada uma doença e a idéia de “cura” foi aceita.
Os homossexuais que decidem mudar sua opção para a heterossexualidade, não o fazem, com certeza, por motivo de conhecimento de si próprio, mas sim pela pressão, preconceito, dificuldade em se adaptar por medo de assumir-se como tal dentro da sociedade, ainda mais com profissionais da área de Psicologia publicando e concordando com tais afirmações pejorativas, sem nenhuma comprovação científica a respeito da homossexualidade.
Um psicólogo não pode optar por reverter ou não a homossexualidade de um paciente. Ele precisa trabalhar para que seu paciente se sinta confortável com a sua orientação sexual.
Todo ser humano possui o masculino e o feminino dentro de si, nessa área do comportamento humano, há muito ainda que se desenvolver em estudos, para que assim as pesquisas nos mostrem uma construção mais concreta de uma teoria que possa realmente explicar a questão do homossexualismo.
O mais importante é que estas pessoas possam contar com a compreensão de que como qualquer outro ser humano, elas são muito mais do que apenas o rótulo que trazem de uma condição sexual diferente da maioria e podem desempenhar funções úteis à comunidade em que vivem integrando-se a ela, e podendo ser amparados sobre os mesmos direitos, deveres e dignidade do restante das pessoas.
Ficou claro que a homossexualidade não se trata só de homens e nem apenas de sexo, independentemente do sexo por que cada pessoa se interessa, existe na maioria das pessoas a capacidade de amar. E amor não quer dizer só sexo, mas também o desejo de intimidade, afetividade, companheirismo e busca pela felicidade.
O conhecimento científico que nós psicólogos e sexólogos possuímos hoje, nos permite concluir que a homossexualidade é apenas uma variante da normalidade.

Alina Kumakura e Isabela Rocha

Artigo realizado para a Diciplina de Ética e Cidadania, Docente Maria Salete Junqueira Lucas.

A Arte de Ouvir

De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição. Disse o escritor sagrado: “No princípio era o Verbo”. Eu acrescento: “Antes do Verbo era o silêncio.” É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio. Veja esse poema de Fernando Pessoa, dirigido a um poeta: “Cessa o teu canto! Cessa, que, enquanto o ouvi, ouvia uma outra voz como que vindo nos interstícios do brando encanto com que o teu canto vinha até nós. Ouvi-te e ouvia-a no mesmo tempo e diferentes, juntas a cantar. E a melodia que não havia se agora a lembro, faz-me chorar...” A magia do poema não está nas palavras do poeta. Está nos interstícios silenciosos que há entre as suas palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não havia. Aí a magia acontece: a melodia me faz chorar.

Não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa para por não haver o que dizer tratamos logo de falar qualquer coisa, para por um fim no silêncio. Vez por outra tenho vontade de escrever um ensaio sobre a psicologia dos elevadores. Ali estamos, nós dois, fechados naquele cubículo. Um diante do outro. Olhamos nos olhos um do outro? Ou olhamos para o chão? Nada temos a falar. Esse silêncio, é como se fosse uma ofensa. Aí falamos sobre o tempo. Mas nós dois bem sabemos que se trata de uma farsa para encher o tempo até que o elevador pare.

Os orientais entendem melhor do que nós. Se não me engano o nome do filme é “Aconteceu em Tóquio”. Duas velhinhas se visitavam. Por horas ficavam juntas, sem dizer uma única palavra. Nada diziam porque no seu silêncio morava um mundo. Faziam silêncio não por não ter nada a dizer, mas porque o que tinham a dizer não cabia em palavras. A filosofia ocidental é obcecada pela questão do Ser. A filosofia oriental, pela questão do Vazio, do Nada. É no Vazio da jarra que se colocam flores.

O aprendizado do ouvir não se encontra em nossos currículos. A prática educativa tradicional se inicia com a palavra do professor. A menininha, Andréa, voltava do seu primeiro dia na creche. “Como é a professora?”, sua mãe lhe perguntou. Ao que ela respondeu: “Ela grita...” Não bastava que a professora falasse. Ela gritava. Não me lembro de que minha primeira professora, Da. Clotilde, tivesse jamais gritado. Mas me lembro dos gritos esganiçados que vinham da sala ao lado. Um único grito enche o espaço de medo. Na escola a violência começa com estupros verbais.

Milan Kundera conta a estória de Tamina, uma garçonete. “Todo mundo gosta de Tamina. Porque ela sabe ouvir o que lhe contam. Mas será que ela ouve mesmo? Não sei... O que conta é que ela não interrompe a fala. Vocês sabem o que acontece quando duas pessoas falam. Uma fala e outra lhe corta a palavra: ‘é exatamente como eu, eu...’ e começa a falar de si até que a primeira consiga por sua vez cortar: ‘é exatamente como eu, eu...’Essa frase ‘é exatamente como eu...’ parece ser uma maneira de continuar a reflexão do outro, mas é um engodo. É uma revolta brutal contra uma violência brutal: um esforço para libertar o nosso ouvido da escravidão e ocupar à força o ouvido do adversário. Pois toda a vida do homem entre os seus semelhantes nada mais é do que um combate para se apossar do ouvido do outro...”

Será que era isso que acontecia na escola tradicional? O professor se apossando do ouvido do aluno ( pois não é essa a sua missão?), penetrando-o com a sua fala fálica e estuprando-o com a força da autoridade e a ameaça de castigos, sem se dar conta de que no ouvido silencioso do aluno há uma melodia que se toca. Talvez seja essa a razão porque há tantos cursos de oratória, procurados por políticos e executivos, mas não haja cursos de escutarória. Todo mundo quer falar. Ninguém quer ouvir.

Todo mundo quer ser escutado. (Como não há quem os escute, os adultos procuram um psicanalista, profissional pago do escutar.) Toda criança também quer ser escutada. Encontrei, na revista pedagógica italiana “Cem Mondialità” a sugestão de que, antes de se iniciarem as atividades de ensino e aprendizagem, os professores se dedicassem por semanas, talvez meses, a simplesmente ouvir as crianças. No silêncio das crianças há um programa de vida: sonhos. É dos sonhos que nasce a inteligência. A inteligência é a ferramenta que o corpo usa para transformar os seus sonhos em realidade. É preciso escutar as crianças para que a sua inteligência desabroche.

Sugiro então aos professores que, ao lado da sua justa preocupação com o falar claro, tenham também uma justa preocupação com o escutar claro. Amamos não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A escuta bonita é um bom colo para uma criança se assentar...

(Rubem Alves)
Crônica publicada na Folha de São Paulo (Caderno Sinapse)