terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Filosofia e Psicologia

A FILOSOFIA

“Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes”
(Marilena Chauí, 1995)

A palavra filosofia é de origem grega e significa amor à sabedoria. Ela surge desde o momento em que o homem começou a refletir sobre o funcionamento da vida e do universo, buscando uma solução para as grandes questões da existência humana.
Os pensadores, inseridos num contexto histórico de sua época, buscaram diversos temas para reflexão. A Grécia Antiga é conhecida como o berço dos pensadores, onde se buscava formular, no século VI a.C., explicações racionais para tudo aquilo que era explicado, até então, através da mitologia.
A Filosofia nasce com o aparecimento do pensamento racional, com a evolução de um pensamento prático para um pensamento intelectual, a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceita-los sem antes havê-los investigado e compreendido.
Ela “especula” sobre a natureza humana e, portanto, sobre o sentido da vida.
Este é então um ponto ao qual ela se diferencia da psicologia, pois esta sempre esteve tentando se identificar com os processos naturais da mente.
Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos compartilhavam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a filosofia.
Se considerarmos filosofia a atividade racional voltada à discussão e à explicação intelectualizada das coisas que nos circundam, tem-se o século VI como a data mais provável de sua origem. Nessa época houve a instituição da moeda, do calendário e da escrita alfabética, a florescente navegação, que favoreceu o intenso contato com outras culturas, esses acontecimentos propiciaram o processo de desdobramento do pensamento poético em filosófico.
De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sócrates (468-399 a.C.).
A filosofia não pode ser considerada um conjunto de questões que já estão prontas, terminadas, mas sim uma procura incessante pelo conhecimento, pela reflexão, podendo voltar-se para qualquer objeto.
Ela é crítica, dúvida do que já é aceito pelo senso comum, abre muitas oportunidades de questionamentos e se torna incômoda, pois questiona o “ser”. É uma resposta da exigência da natureza humana.
O homem, imerso no mistério do real, vive a necessidade de encontrar uma razão de ser para o mundo que o cerca e para os enigmas de sua existência.

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A PSICOLOGIA
Pode-se dizer que foi a filosofia a pioneira na introdução da psicologia como uma nova disciplina. Durante muitos séculos, foi definida como um saber acerca da alma. Porém, a alma é metafísica e então era tomada com crença e não como uma ciência. Os filósofos limitavam-se a especulações, fazendo uso da razão, reflexão e discussão. Utilizavam, assim, como método o raciocínio dedutivo e as leis da lógica e rejeitavam todo o conhecimento proveniente dos sentidos (conhecimentos empíricos). A este período, a psicologia ficou conhecida como pré científica e só depois em 1879 passa a funcionar como ciência.
É sabido que durante dois milênios a psicologia foi inseparável da filosofia, tanto assim que não existia o termo que desta a distinguisse. Apenas no século XVI foi ele criado por um professor de Marburg, hoje esquecido, o lógico Rodolfo Goclenius, e muito raramente empregado até o século XVIII. Sabe-se, também, que este termo (formado a partir de psyché, alma, e logos, razão) significa, etimologicamente, ciência, estudo da alma. Pouco ajuda, porém essa definição, uma vez que os homens nunca deixaram de discutir, quando não de disputar, a respeito da natureza, da função e, até, da realidade da alma; e também porque se trata de saber como e em que medida essa realidade -sobre a qual não nos entendemos- se tornou objeto de investigação “científica”, no sentido atual do termo.
Na medicina antiga, formou-se a famosa teoria hipocrática do humores, exposta na natureza do homem, que atribui ao ser humano quatro humores: o sangue, a fleuma (chamada também linfa), a bílis amarela e a bílis negra (ou atrabílis), cada uma das quais relacionada a um orgão particular: o coração, o cérebro, o fígado, o baço.
As patologias encontradas nesses orgãos foram consideradas como produtos da reação do organismo ao meio, algo como o ponto de junção entre o indivíduo e o universo. Os médicos consideravam que o desequilíbrio desses humores poderiam ter suas causas: internas ( excesso de humores e de preocupações) e externas ( mudança de clima, traumatismos acidentais e miasmas no ar).
Assim o tratamento requer um conhecimento baseado em observações e reflexões, trata-se de uma certa filosofia, ou uma forma psicoterápica de lhe dar com as enfermidades.
As idéias hipocráticas hoje constituem uma forma antecipada de uma medicina hoje chamada “psicossomática”. Os médicos se preocupavam com as interfências entre o organismo e psiquismo. No desenvolvimento da psicologia, seu objeto dificilmente se presta aos métodos das ciências naturais, que então se imaginavam em total solução de continuidade com a filosofia.
A psicologia, sob sua forma atual, ou seja, enquanto disciplina independente, baseada em métodos que se valem em bases científicas, é a única legítima.
As pesquisas, por mais que suas perspectivas estejam transformadas, continuam a ter por objeto o homem interior, ainda quando pretendam explicá-lo “por fora”, por meio de uma interpretação puramente “objetiva”; o homem interior, esse que continua a ser, com sua interrogação sobre si próprio e sobre o mundo.
A psicologia só conseguiu se tornar uma área independente, quando estudou (e ainda estuda) ao indivíduo como tal, embora possa apresentar alguma restrição à necessidade de isolar o indivíduo para estudá-lo psicologicamente.
No passado, por mais bem estruturados e embasados as pesquisas e o conhecimento, não se poderia de forma alguma separar totalmente, a psicologia daquilo que hoje constitui metafísica, moral, fisiologia e outros.
Em resumo, a psicologia estuda os comportamentos humanos, tais como as reações e interações com o ambiente em que vive e os outros individuos com quem convive. É impossível falar de comportamento, sem mencionar a variabilidade existente universalmente em todos os aspectos existentes no mundo, tanto nas transformações químicas, fisícas e psiquicas.
É impossível uma análise concreta de determinadas doenças psicossomáticas ou conflitos interiores do homem, analisando-se apenas uma pessoa, é necessário uma pesquisa de determinados grupos, aos quais sejam totalmente imparciais as escolhas e também aleatórias.
Na psicologia é possivel também prever determinados eventos que são partilhados por indivíduos de determinadas culturas, ou faixa etárias. Toda essa observação do desenvolvimento e comportamento humano, define um indivíduo como único, mas também ajuda a compreender as relações deste, com o mundo e do mundo como parte dele.

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A RELAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA E FILOSOFIA

Para entender o que é psicologia é preciso questionar de onde e porque ela surgiu, e a importância da filosofia na psicologia.
Como foi visto, a filosofia surgiu desde os tempos primórdios da vida do homem, quando ele começa a criar ordens e organizações para a sua sobrevivência, lidando com os fenômenos da natureza e deixando as crenças e acontecimentos místicos de lado. Essa necessidade vem da capacidade de manipular o ambiente ao seu redor, e é o que o difere dos outros animais.
Com o manejo da natureza e das lições básicas para a sobrevivência ele começa ter uma outra necessidade, a de se organizar em grupos, formando as sociedades.
Pode-se dizer também que a filosofia é mãe de muitas ciências.
A ciência por sua vez, é uma forma de transformar o senso comum em leis que pretensiosamente possam ser universais. Elas devem ser testadas e ter funcionamento pleno, e é válida enquanto der certo e for coerente.
Dentro de uma sociedade, é preciso determinadas leis que são também existentes na ciência e que sirvam como “métodos para impedir que os desejos corrompam o conhecimento objetivo da realidade” (Alves, Rubem).
Quando a imensa engrenagem (que é a sociedade) começa a funcionar, ela passa também a elaborar questionamentos e exigir respostas, pois o desenvolvimento humano gerado pelo avanço intelectual do homem, necessita cada vez mais de novas medidas e idéias para suprir as novas necessidades.
O que antes era uma preocupação egocêntrica se torna um problema coletivo e é necessário o estudo do homem como um ser integrante disso, e que necessita de viver e conviver junto de toda uma sociedade.
Ele é, portanto, um criador de idéias, de ciência e de história, tendo a extrema necessidade entender a história e a filosofia para poder compreender a psicologia, pois é a partir delas que surgem a necessidade da compreensão subjetiva do mundo em que vivem, das pessoas onde convivem e do próprio ser.
O pensamento filosófico é uma ferramenta de grande importância para a compreensão do ambiente coletivo. É poder refletir sobre determinadas questões individuais e coletivas.
Para a continuidade da evolução humana, também se faz útil uma reflexão mais profunda sobre cada elemento de seu grupo social, seja profissional, escolar, passional, ou individual.
Podem ser questões concretas, materiais ou então questões subjetivas, do agir, do pensar e do sentir. Isto constitui uma grande relação, ou melhor, uma grande definição do objeto de estudo da psicologia.
Nota-se então a impossibilidade de se falar em psicologia sem falar em filosofia, sendo a psicologia uma ciência que já existia há muito tempo, junto com a filosofia, e que apenas não havia recebido um nome próprio, mas que já estava participando das formulações de ideais filosóficos e também caminhando para a sua própria independência.

Aline Kumakura e Isabela Rocha


RERERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Alves, Rubem. A filosofia da Ciência
4 ed. São Paulo, 2002. 221p.
Chauí, Marilena. Convite à Filosofia
Ed. Ática, São Paulo, 2000.
Mueller, Fernand Lucien. História da Psicologia
2 ed. São Paulo, 1978.
Magee, Bryan. História da Filosofia
3 ed., 2001.

2 comentários:

  1. Ótima iniciativa para ampliação do conhecimento de voces e para conhecimento dos leigos neste assunto tão complexo.

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  2. Ótima iniciativa para ampliação do conhecimento de voces e para conhecimento do leigos neste assunto tão complexo.

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