quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

HOMOSSEXUALIDADE, PSICOTERAPIA E ÉTICA.

Atualmente há muita polêmica envolvendo profissionais da área da Psicologia, que alegam “curar” a homossexualidade. Preconceituosamente o homossexual é visto perante a sociedade como um “estranho”, um ser inferior, essa postura aparece em todos os ambientes sociais, que na verdade deveriam estar a favor do entendimento e da
superação dos preconceitos.
Quando se fala em “curar” pressupõe-se que seja uma doença, porém com relação a essa idéia a comunidade médica é unânime ao afirmar que não, nenhuma orientação sexual é doença.
Segundo Carmita Abdo, responsável pelo Projeto de Sexualidade da USP, a origem da homossexualidade é uma somatória de fatores, mas ninguém sabe a causa, sendo assim não seria possível um tratamento contra “bloqueios psicológicos”.
Essas idéias um tanto retrógradas vão fazendo o indivíduo homossexual perder cada vez mais seu espaço e posição social respeitosa de igualdade dentro da sociedade, desenvolvendo assim um autoconceito, baixo se tornando cada vez mais solitário e excluído.
Talvez mais importante que considerar a homossexualidade um problema psicológico, passível de tratamento, seja educar a população para respeitar as individualidades.
Vemos que as mudanças decorrentes na sociedade fazem da opção sexual uma grande polêmica, é uma situação que necessita de grande ajustamento emocional, por isso este projeto tem a finalidade de investigar o significado da homossexualidade perante as práticas psicoterápicas e a importância da ética profissional nesses casos.
Segundo Peter Fray (1983), a palavra homossexualidade vem do grego homos = igual + latim sexus = sexo, refere-se ao atributo, característica ou qualidade de um ser humano que sente atração física, emocional e estética por outro ser do mesmo sexo. Esse termo também se refere a um indivíduo com senso de identidade pessoal e social com base nessas atrações, manifestando comportamentos e aderindo ou não a uma comunidade de pessoas que compartilham da mesma orientação sexual.
Historiadores afirmam que, embora o termo seja recente, a homossexualidade existe desde os primórdios da humanidade tendo havido diversas formas de abordar a questão.
Ao decorrer da história da humanidade, os aspectos individuais da homossexualidade foram admirados ou condenados, de acordo com as normas sexuais vigentes nas diferentes culturas e épocas em que ocorreram. Quando admirados, esses aspectos eram entendidos como uma maneira de melhorar a sociedade, quando condenados, eram considerados um pecado ou algum tipo de doença, em alguns casos, até proibido por lei.
No século XIX, a homossexualidade foi definida em termos psiquiátricos como um desvio sexual, uma inversão do masculino e do feminino. A partir de então, no ramo da Sexologia, a homossexualidade foi descrita como uma das formas emblemáticas da degeneração, nessa época já existiam as leis que proibiam as relações entre pessoas do mesmo sexo.
Esse cenário vem mudando desde meados do século XX, a homossexualidade tem sido gradualmente desclassificada como doença e descriminalizada na maioria dos países, havendo alguns que as tratam em absoluta igualdade com as relações entre pessoas de sexo oposto.
A partir dos movimentos de liberação homossexual, emergiu o termo gay como meio para apagar o teor psiquiátrico por trás da palavra homossexual. Assim, gay é um termo politizado e menos estigmatizante. Chamava-se originariamente gay ao homossexual masculino (independente de "rotulações" tais como ativo ou passivo). Hoje em dia, o termo gay aplica-se indistintamente quer ao homem que se relaciona sexualmente com outro homem, quer à mulher que se relaciona sexualmente com outra mulher.
Mas o maior problema não seria o termo homossexualidade, mas sim a palavra homossexualismo, sendo que o sufixo "ismo" é utilizado para referenciar posições filosóficas ou científicas sobre algo, já outros afirmam que sua utilização é mais adequada a situações de identificar opções pessoais, estilos de vida e, partindo disso, passar para o distúrbio mental ou doença Também por isso, muitas pessoas consideram que o termo homossexualismo tem um significado pejorativo, e isto tem sido levado hoje como o termo mais utilizado por pessoas que têm uma visão negativa da homossexualidade.
As principais organizações mundiais de saúde, inclusive as de psicologia, não consideram mais a homossexualidade uma doença. Desde 1973, ela deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de Psiquiatria e, na mesma época, foi retirada do Código Internacional de Doenças.
Segundo um texto publicado pela revista Superinteressante, da edição 207 (dezembro/2004), a Assembléia geral da Organização Mundial de Saúde no dia 17 de Maio de 1990, também retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, declarando que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade.
Apesar disso e mesmo contra recomendações do Conselho Federal de Psicologia do Brasil, existem técnicos da saúde que insistem em ver a homossexualidade como uma doença, perturbação ou desvio do desejo sexual, algo que pode necessitar de tratamento ou reabilitação, aos quais está associado o movimento ex-gay, dedicado à "conversão" de indivíduos homossexuais para a heterossexualidade.
Segundo Campos (1994), na psicanálise não se teve uma explicação completa sobre a origem do homossexualismo, mas descobriu-se o mecanismo psíquico de seu desenvolvimento. Nos primeiros anos de infância, há uma fase de fixação muito intensa por uma mulher, mãe ou sua substituta, (no caso do menino) ou pelo pai (no caso da menina), depois de passada esta fase, identificam-se com eles e se consideram, eles próprios, seu objeto sexual, ou seja, partem de uma base narcísica e procuram alguém que se pareça com eles, a quem eles possam amar como eram amados por seus pais.
A natureza da homossexualidade não pode ser explicada, quer pela hipótese de que é congênita, quer pela hipótese de que é adquirida. Se for congênita, deve-se perguntar sob que aspecto ela é, a menos que queiramos aceitar a explicação de que todos nascemos com instinto sexual ligado a um determinado objeto sexual. No caso da adquirida, pode-se indagar se as diversas influências acidentais seriam suficientes para explicar a aquisição da homossexualidade, sem a cooperação alguma coisa no próprio individuo. Para Freud todo ser humano na infância passa por um estágio bissexual, onde o componente homossexual geralmente desaparece, uma pequena parte ainda permanece na vida adulta, de forma sublimada. A homossexualidade, quando insuficientemente reprimida, poderá manifestar-se na vida adulta.
A disposição para isso é uma disposição normal e universal do instinto sexual humano e o comportamento sexual normal se desenvolve a partir dela como resultado de alterações orgânicas e psíquicas que ocorrem durante a maturação.
Para uma compreensão acerca da manifestação da homossexualidade, é necessário que se conheça a historia de vida do individuo, bem como seu envolvimento no processo analítico. Cada caso é um caso, portanto, não é correto afirmar que a homossexualidade é uma doença.

Embora ainda aja muita discussão sobre a verdadeira origem da homossexualidade, uma das teorias mais abrangentes e mais aceitas, é precisamente que a orientação sexual é determinada tanto por fatores biológicos e psicológicos decorrentes ao longo do desenvolvimento da identidade do indivíduo.
Assim, a atribuição da homossexualidade a traumas pode ser considerada, porém, muitos homossexuais não têm na sua experiência um desses "traumas de infância”. Existem muitas pessoas que apóiam (principalmente populares, não-científicas), a observação das experiências sexuais e a relação entre gêneros leva a maioria da sociedade a considerar tais teorias são desprovidas de validade. Também consideram a homossexualidade uma incapacidade de relacionamento com o sexo oposto, visto que de forma geral, o indivíduo homossexual tem potencialmente um comportamento e experiências sociais iguais às do heterossexual.
A homossexualidade não é uma escolha, mas uma atração sexual e emocional por indivíduos do mesmo sexo que surge de forma espontânea e inesperada, assim como a heterossexualidade.
Segundo Kuehlwein (1998), o trabalho do psicólogo com homossexuais, envolve fazer uma avaliação das crenças e do ambiente social do cliente, identificando as mensagens que ele obteve sobre si, sua sexualidade e sua homossexualidade, com o objetivo de explicar as dificuldades em relação à auto-aceitação e construir novas crenças, consolidar uma identidade gay positiva, trabalhar as evidências sobre as atitudes da família e dos amigos, identificando evidências reais e fantasiosas e desenvolver junto ao cliente uma rede social de amigos gays e heterossexuais.
Para a psicoterapia comportamental, há um processo de autoconhecimento com o objetivo de promover um maior desenvolvimento da percepção que uma pessoa tem sobre si, de suas atitudes, pensamentos e sentimentos. Neste sentido, propõe que ao trabalhar com homossexuais é importante identificar os problemas e as situações conflitantes que a identidade homossexual produz, de forma que essa identificação possibilite a manipulação de variáveis que provoquem modificação de comportamentos do cliente.
Segundo Skinner (1993), a psicoterapia é vista como um agente controlador, não tão organizada quanto o governo ou a religião, mas uma profissão, cujos membros observam procedimentos mais ou menos padronizados. Esta característica de agente controlador deve-se ao fato de que a psicoterapia está relacionada, com comportamentos considerados inconvenientes ou perigosos para o próprio indivíduo ou para os outros, desta forma, pode-se dizer que quando uma pessoa procura a ajuda de um profissional da psicologia está sob controle de condições aversivas, que estão presentes em sua vida e por isto decidiu fazer terapia, portanto a possibilidade de mudança é vista como promessa de alívio, o que coloca o psicólogo como novo agente controlador. O próprio Skinner aponta que a psicoterapia é, freqüentemente, um espaço para aumentar a auto-observação, para “trazer à consciência” uma parcela maior daquilo que é feito e das razões pelas quais as coisas são feitas.
A psicoterapia comportamental se preocupa com mudança de comportamento, e essa mudança se baseia em uma análise funcional dos comportamentos considerados problemáticos. Neste sentido ele afirma que uma psicoterapia precisa oferecer efetividade, otimização entre custo e benefício, garantir que não existirão efeitos perniciosos decorrentes da intervenção e manutenção dos resultados.

Portanto pode-se dizer que a psicoterapia é um processo que envolve uma relação humana, na qual estão presentes o cliente e o terapeuta. Nessa relação, cada um tem seu papel definido, sendo o terapeuta o responsável pela ajuda e o cliente aquele que procura ajuda.
Mas a psicoterapia também pode ser um meio de controle da conduta humana, pode se tornar uma violência contra os indivíduos se o terapeuta não tomar os devidos cuidados éticos. É importante que se tome muito cuidado com a questão ética nessa profunda relação estabelecida, para que este “ajudar” não seja o “pensar para” o cliente, “modificar” o que é parte dele, para que não sofra e pareça eficaz em um período mais curto de tempo na psicoterapia. Esta questão ética da Psicologia dá um gancho para pensarmos sobre a polêmica que levou ao interesse para a realização deste artigo.
Esta polêmica foi publicada na Revista Veja, na edição 2125, no dia 12 de Agosto de 2009, e trata de uma declaração feita por uma psicóloga R.A.J., 50, formada pelo Centro Universitário Celso Lisboa, do Rio de Janeiro, na qual diz considerar a homossexualidade um transtorno para o qual oferece terapia de cura.
A psicóloga foi censurada pelo Conselho Federal de Psicologia, pois ela infringiu uma resolução do CFP de 22 de março de 1999, que garante que a homossexualidade “não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”.
Segundo Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora geral do ProSex (Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo), todo homossexual que for egodistônico, ou seja, que não aceitar sua condição sexual e tiver conflito em relação à sua sexualidade pode ser tratado por um psiquiatra ou terapeuta. Não para reverter ou mudar a sua tendência, mas para tentar se adaptar à sua condição. Essa é a orientação da Organização Mundial da Saúde, que há 15 anos tirou da homossexualidade o status de "doença mental". Todos os tratamentos aplicados até então para curar um homossexual não davam certo, pelo contrário, tornavam a situação dele ainda mais crítica.
A tentativa de "reverter" a homossexualidade de um paciente acabava por deixá-lo mais confuso. Esse tipo de tratamento cria um conflito entre o que ele deseja ser e o que ele consegue ser. Nos dias atuais, um profissional de saúde não pode fazer uma escolha de como tratar um homossexual, uma vez que existe um consenso, uma diretriz que diz que não existe uma doença e, portanto, não há uma cura para ela.

O interesse pela realização deste artigo foi à declaração de uma psicóloga, que dizia curar a homossexualidade, isso nos faz pensar sobre sua posição ética em relação à psicoterapia, é totalmente antiético da parte do profissional de Psicologia, pois além de ser de sua área de atuação o apoio para o bem estar emocional, identificação, aceitação e adaptação do próprio “eu” do cliente, é também de grande responsabilidade social, já que é a área do “comportamento humano”.
Infelizmente alguns profissionais ainda atuam dentro de um pensamento ultrapassado, quando a homossexualidade foi considerada uma doença e a idéia de “cura” foi aceita.
Os homossexuais que decidem mudar sua opção para a heterossexualidade, não o fazem, com certeza, por motivo de conhecimento de si próprio, mas sim pela pressão, preconceito, dificuldade em se adaptar por medo de assumir-se como tal dentro da sociedade, ainda mais com profissionais da área de Psicologia publicando e concordando com tais afirmações pejorativas, sem nenhuma comprovação científica a respeito da homossexualidade.
Um psicólogo não pode optar por reverter ou não a homossexualidade de um paciente. Ele precisa trabalhar para que seu paciente se sinta confortável com a sua orientação sexual.
Todo ser humano possui o masculino e o feminino dentro de si, nessa área do comportamento humano, há muito ainda que se desenvolver em estudos, para que assim as pesquisas nos mostrem uma construção mais concreta de uma teoria que possa realmente explicar a questão do homossexualismo.
O mais importante é que estas pessoas possam contar com a compreensão de que como qualquer outro ser humano, elas são muito mais do que apenas o rótulo que trazem de uma condição sexual diferente da maioria e podem desempenhar funções úteis à comunidade em que vivem integrando-se a ela, e podendo ser amparados sobre os mesmos direitos, deveres e dignidade do restante das pessoas.
Ficou claro que a homossexualidade não se trata só de homens e nem apenas de sexo, independentemente do sexo por que cada pessoa se interessa, existe na maioria das pessoas a capacidade de amar. E amor não quer dizer só sexo, mas também o desejo de intimidade, afetividade, companheirismo e busca pela felicidade.
O conhecimento científico que nós psicólogos e sexólogos possuímos hoje, nos permite concluir que a homossexualidade é apenas uma variante da normalidade.

Alina Kumakura e Isabela Rocha

Artigo realizado para a Diciplina de Ética e Cidadania, Docente Maria Salete Junqueira Lucas.

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